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Paradoxo: Capítulo 06
O som das vozes ecoava na sala de reuniões, mas Júlia se sentia estranhamente distante. Sentada à mesa, ela mantinha a postura profissional de sempre, atenta às discussões sobre o andamento do projeto da editora, mas sua mente vagava para o que acontecera momentos antes na sua sala.
Os olhares trocados, as palavras
que ele escolhera com tanto cuidado, como se quisesse deixar algo subentendido.
Ela não podia negar o quanto aquilo mexera com ela, apesar de toda a
determinação em manter o foco.
De vez em quando, ela percebia o
olhar de Lucas fixo nela. Não era um olhar de provocação, nem de rivalidade.
Era mais profundo, mais intenso do que ela estava preparada para lidar naquele
momento. Ela tentou ignorar, mas sentia uma espécie de eletricidade no ar entre
eles.
— Então, acho que está claro como
iremos proceder — a voz do chefe da equipe cortou seus pensamentos. Lucas,
Júlia, vocês serão nossos porta-vozes para apresentar esse projeto ao conselho
executivo.
Ela endireitou a postura,
tentando parecer o mais tranquila possível.
— Claro, estamos prontos para
isso — ela respondeu, confiante, enquanto ele assentia ao seu lado.
Com a reunião chegando ao fim,
todos começaram a se dispersar, mas antes que ela pudesse se levantar, sentiu
uma presença ao seu lado.
— Podemos conversar? — ele
perguntou, com aquele tom que já começava a desarmá-la.
Sem ter como evitar, ela
concordou, e os dois saíram juntos da sala. Ao chegarem no corredor, ele fez
sinal para que fossem para uma área mais isolada. Assim que pararam, o silêncio
entre eles se tornou palpável, carregado de tensão.
— O que foi aquilo? — ela
finalmente perguntou, quebrando o silêncio.
Ele franziu o cenho, confuso.
— Aquilo... o que exatamente?
Ela revirou os olhos, impaciente.
— O que você disse mais cedo, na
minha sala. Que temos mais em comum do que o trabalho. O que você quis dizer
com isso?
Ele cruzou os braços, pensativo,
como se ponderasse a resposta.
— Eu quis dizer exatamente o que
falei. — Ele deu um passo à frente, encurtando a distância entre eles. — Você
não acha que já passou da hora de reconhecermos que isso não é só uma
competição?
Ela arqueou as sobrancelhas,
surpresa com a honestidade direta. Aquele não era o Lucas que ela conhecia,
sempre cheio de joguinhos e provocação.
— Não sei do que você está
falando — ela tentou desviar, mas a própria voz soou incerta.
— Ah, sabe sim — ele insistiu,
agora com um tom mais suave, mas ainda decidido. — Não me diga que você não
sente essa... coisa entre nós. E não é só sobre trabalho, ou rivalidade.
Ela mordeu o lábio, nervosa. Sim,
ela sentia, e isso a irritava profundamente. Tudo havia sido muito mais simples
quando ele era apenas o adversário que ela queria derrotar. Mas agora, com
todas essas camadas que ela começava a ver nele, e as próprias reações dela...
estava ficando complicado.
— Eu não vim para cá por isso —
ela disse finalmente, tentando retomar o controle da conversa. — Tenho coisas
mais importantes para focar.
— Sei disso. Eu também. — Ele deu
mais um passo, a poucos centímetros dela agora, sua voz baixa, quase em um
sussurro. — Mas negar que há algo aqui não vai fazer isso desaparecer.
Ela olhou para ele, sentindo o
calor crescente da proximidade entre os dois, os olhos dele fixos nos dela com
uma intensidade que a deixava sem ar. Por um segundo, ela pensou que ele fosse
se inclinar mais para perto, e a ideia fez seu coração disparar.
Mas ele não o fez. Em vez disso,
respirou fundo e recuou levemente, como se estivesse lutando contra o mesmo
impulso que ela sentia.
— Não vou te pressionar — ele
disse, sua voz agora mais controlada. — Mas acho que você sabe que isso vai
acabar vindo à tona, mais cedo ou mais tarde.
Ela o observou por alguns
segundos, ainda sentindo o peso das palavras dele pairando no ar. Algo dentro
dela estava prestes a ceder, mas ela não sabia se estava pronta para lidar com
as consequências.
Sem responder, ela se afastou,
seus passos ecoando pelo corredor vazio enquanto tentava afastar o turbilhão de
emoções que ameaçava transbordar.
Ela tinha uma apresentação
importante para focar, um projeto a ser entregue, e, acima de tudo, ainda havia
a competição pelo cargo. Isso era o que importava. Mas, mesmo enquanto repetia
essas palavras para si mesma, não conseguia ignorar a verdade crescente dentro
de si.
Não era mais apenas sobre o
trabalho. Algo havia mudado. Algo que, por mais que tentasse evitar,
continuaria se infiltrando entre as linhas de cada interação entre eles.
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