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Paradoxo: Capítulo 07
O auditório estava lotado. Executivos da editora, membros do conselho, e até alguns investidores haviam se reunido para a tão aguardada apresentação do novo projeto da equipe. No palco, os holofotes iluminavam as telas onde Júlia e Lucas apresentariam suas ideias. Era um momento decisivo para ambos. O cargo de liderança estava em jogo, e essa era a chance de mostrar quem tinha a visão mais arrojada e o talento necessário para assumir a vaga.
Júlia olhou para a plateia
enquanto ajustava os últimos detalhes da sua parte da apresentação. Seu coração
batia acelerado, mas ela tentava manter a calma. Sabia que esse era o momento
pelo qual havia lutado tanto. Ao lado dela Lucas mantinha sua postura
confiante, mas ela conseguia perceber uma certa tensão nas feições dele também.
Ambos haviam trabalhado
incansavelmente nas semanas anteriores para finalizar o projeto. A colaboração
forçada criara momentos de tensão ainda maiores, e as faíscas entre eles
estavam sempre à flor da pele. Havia momentos em que conseguiam trabalhar lado
a lado, admirando secretamente a capacidade um do outro, mas esses momentos
eram breves e logo voltavam à competição velada.
Agora, finalmente, estavam ali,
prestes a apresentar tudo. Ela sabia que precisava se concentrar no que
importava: impressionar o conselho e garantir a posição. Mas, toda vez que
olhava para ele, sentia aquela agitação incômoda. Ele estava tão perto, ambos
tão profundamente envolvidos nesse trabalho, que era impossível ignorar a carga
emocional que pairava entre eles.
— Está pronta? — a voz dele a
tirou de seus pensamentos. Ele estava ali, ao seu lado, a alguns centímetros de
distância. Perto demais, como sempre.
— Mais do que pronta — ela
respondeu com um sorriso confiante, embora seus nervos estivessem à flor da
pele.
Ele assentiu, olhando para ela
com aquela intensidade que ela já começava a reconhecer. Não era apenas uma
questão de trabalho, e ela sabia disso. Algo maior estava crescendo entre eles,
algo que ela ainda não estava preparada para enfrentar.
Quando a apresentação começou,
ambos se revezaram perfeitamente. As falas eram claras, as ideias precisas.
Eles eram um time impecável, mesmo que por trás dos sorrisos profissionais
houvesse uma tensão mal disfarçada. As perguntas do conselho começaram a vir,
desafiando-os a defender suas ideias. Era um verdadeiro campo de batalha
intelectual, mas eles se saíam bem, complementando as falas um do outro, mesmo
quando pareciam prontos para desafiar o ponto de vista do outro.
Porém, em um momento crítico,
algo inesperado aconteceu. Uma falha técnica interrompeu a exibição do projeto
na tela principal. O vídeo, que era uma parte crucial da apresentação, travou
no meio de sua exibição. O silêncio pesado tomou conta do auditório enquanto
todos os olhares se voltavam para eles.
Júlia sentiu o pânico crescer em
seu peito. Eles haviam trabalhado tanto naquele vídeo, e ele era parte
essencial do impacto que desejavam causar. Ela olhou para Lucas, esperando que
ele tivesse alguma solução.
Para sua surpresa, ele permaneceu
calmo. Sem hesitar, ele se virou para a plateia e começou a improvisar,
explicando o conteúdo do vídeo com palavras claras e concisas, mantendo o
interesse do público enquanto tentavam resolver o problema técnico.
Ela o observava, impressionada.
Mesmo em meio ao caos, ele conseguia manter o controle da situação. A maneira
como ele lidava com aquilo era impecável, e ela não pôde deixar de admirar sua
capacidade de improvisar sob pressão. Pela primeira vez, viu nele não apenas um
rival, mas um parceiro que sabia como resolver problemas de maneira eficaz.
Quando o vídeo finalmente voltou
a funcionar, ele sorriu de leve para ela, como se soubesse que tinha lidado com
a situação de maneira brilhante. Ela apenas assentiu, ainda impactada pela
forma como ele assumira o controle.
A apresentação terminou com
aplausos, mas o silêncio entre eles, enquanto os dois saíam do palco, era ainda
mais forte. Caminharam juntos até uma sala de bastidores, onde poderiam
conversar longe dos olhares curiosos.
— Você lidou bem com aquilo — ela
admitiu, quebrando o silêncio, enquanto soltava um suspiro de alívio. Era raro
ela elogiar alguém, especialmente ele.
Ele sorriu, um pouco cansado, mas
claramente satisfeito com o reconhecimento.
— Nós lidamos bem — ele corrigiu,
seu olhar fixo no dela. — Não teríamos chegado tão longe sem seu planejamento
detalhado.
Ela piscou, surpresa. Não
esperava aquele tipo de elogio vindo dele, não naquele momento. Era algo mais
profundo, algo que reconhecia a parceria que, até então, ambos estavam tentando
ignorar.
— Sabe, às vezes eu fico
pensando... — ele começou, com um tom mais leve do que o habitual. — Se nós
dois estivéssemos do mesmo lado, de verdade, talvez não precisássemos competir
tanto assim.
Ela cruzou os braços, sem saber
como responder. Aquela ideia a deixava desconfortável. Afinal, desde o começo,
o que os movia era a competição.
— Nós somos do mesmo lado — ela
respondeu finalmente, tentando manter a voz firme. — Só que ainda não
perceberam quem vai liderar.
Ele riu, uma risada baixa, quase
irônica.
— Ah, eu já percebi. Só não sei
se estou pronto para aceitar.
Os olhos dela se estreitaram, sem
entender a provocação.
— E o que exatamente você quer
dizer com isso?
Ele deu um passo mais perto,
diminuindo a distância entre eles. O sorriso suave desapareceu de seu rosto,
substituído por uma expressão séria, quase desafiadora.
— Acho que você sabe o que eu
quero dizer.
Ela engoliu em seco, seu coração
batendo mais rápido enquanto o encarava. Era como se as sombras da competição
finalmente estivessem se misturando com a luz de algo novo, algo que ela não
podia mais ignorar.
Mas antes que pudesse responder,
a porta da sala se abriu, interrompendo o momento. Um dos membros do conselho
executivo entrou, chamando-os para uma nova rodada de discussões.
Ela suspirou, tentando afastar os
pensamentos confusos, enquanto seguia para a próxima reunião. Mas, pela
primeira vez, a ideia de competir com ele não parecia tão clara quanto antes.
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