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Paradoxo: Capítulo 08
A rotina na editora continuava intensa. Após o sucesso da apresentação, tanto Júlia quanto Lucas haviam sido convocados para uma série de reuniões e discussões sobre o desenvolvimento futuro do projeto. Embora a tensão entre eles houvesse se transformado em algo mais sutil, o ambiente ainda estava carregado de rivalidade. No entanto, a linha que separava a competição da colaboração já começava a se borrar.
Naquela manhã, a editora estava
especialmente agitada. O novo calendário editorial estava sendo finalizado, e
ambos foram chamados para trabalhar juntos mais uma vez. Os olhares entre eles
eram mais longos, as conversas mais frequentes, mas sempre envoltas em uma leve
ironia que servia para disfarçar o que ambos sentiam. E então, algo inesperado
começou a mudar a dinâmica.
Durante uma reunião sobre a nova
linha de publicações, uma jovem editora recém-chegada foi apresentada ao time.
Isabelle, com seu sorriso simpático e uma autoconfiança tranquila, chamou a
atenção de muitos. Mas para Júlia, foi o modo como Lucas reagiu à presença de
Isabelle que a fez sentir algo incômodo, uma sensação que ela não estava
preparada para admitir.
Isabelle era competente e
amigável. Logo, começou a se aproximar de Lucas de maneira natural, discutindo
detalhes de projetos e trocando ideias sobre estratégias de marketing. Júlia observava
à distância, e cada risada que eles compartilhavam parecia ecoar um pouco mais
alto em seus ouvidos.
No início, ela tentou ignorar.
Afinal, não havia razão lógica para se sentir afetada. Eles ainda eram rivais,
ainda estavam competindo pelo mesmo cargo. Mas a cada dia que passava, a
aproximação entre Isabelle e ele parecia crescer. Não havia nada explícito,
apenas pequenas interações – um comentário casual, uma troca de sorrisos,
conversas um pouco mais longas do que o normal.
Naquela tarde, enquanto todos
preparavam suas mesas para mais um encontro com o conselho, Júlia ouviu um riso
vindo da sala ao lado. Espiando pela porta entreaberta, ela viu Isabelle e Lucas
conversando em um tom descontraído. Ele parecia relaxado, diferente da postura
sempre competitiva que ele assumia quando estava com ela.
Ela apertou a caneta que
segurava. Não sabia dizer por que, mas aquilo a incomodava. Talvez fosse o fato
de que ele estava relaxado com outra pessoa, ou talvez fosse o sorriso de
Isabelle, que parecia natural demais. Pela primeira vez, ela se pegou perguntando:
e se ele estivesse olhando para alguém da mesma forma que ela começava, sem
perceber, a olhar para ele?
No entanto, não havia tempo para
explorar seus sentimentos. A reunião estava prestes a começar, e ela precisava
manter o foco.
Quando finalmente se encontraram
na sala de reuniões, ele estava sentado ao lado de Isabelle, e a tensão que a
envolveu foi quase instantânea. Júlia tentou ignorar, colocando toda a sua
atenção na pauta do dia, mas a verdade era que ela não conseguia afastar o
desconforto. Algo dentro dela estava diferente, uma ponta de dúvida, ou talvez
algo mais perigoso: ciúmes.
— Você está quieta hoje — ele
comentou de repente, baixando a voz enquanto os outros discutiam detalhes ao
redor da mesa.
Ela olhou para ele, surpresa pela
observação. Tentou disfarçar com um sorriso forçado.
— Apenas focada — respondeu,
mantendo o tom profissional.
Mas ele a conhecia o suficiente
para perceber que havia algo errado. Seu olhar a atravessou por um momento,
como se estivesse tentando ler o que ela não queria mostrar. Antes que ele
pudesse dizer algo mais, a discussão ao redor os chamou de volta ao presente,
forçando-os a retomar o profissionalismo.
A reunião se arrastou por horas,
e ao final, Júlia estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Enquanto
arrumava suas coisas para sair, percebeu que Isabelle e Lucas ainda estavam
conversando, desta vez sobre um novo projeto que ela nem sabia que ele estava
envolvido.
Ela não podia deixar de sentir
como se estivesse de fora. Eles riam, trocavam ideias, e ele parecia
confortável com a situação. Aquele incômodo, aquela sombra que pairava sobre
seus pensamentos, começou a crescer.
De volta à sua mesa, ela
deixou-se cair na cadeira, o olhar perdido. "Por que isso está me afetando
tanto?", pensou. Até aquele momento, o que ela sentia por ele era apenas
uma mistura de competição e atração, algo que ela acreditava estar sob controle.
Mas agora, vendo-o com Isabelle, uma nova realidade parecia emergir: ela se
importava. E talvez mais do que deveria.
Essa percepção a atingiu como um
balde de água fria. Era a primeira vez que ela realmente se perguntava o que
queria de verdade. Será que tudo o que ela sentia por ele estava apenas ligado
à competição? Ou será que, aos poucos, havia se tornado algo mais?
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