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Paradoxo: Capítulo 09
As semanas que seguiram foram um verdadeiro teste para Júlia. A presença constante de Isabelle na vida profissional de Lucas parecia sempre pairar sobre sua cabeça. Embora tentasse ignorar, a verdade era que a proximidade entre os dois estava se tornando cada vez mais incômoda. E, para piorar, ele parecia não notar o quanto isso a afetava.
Naquela manhã, o clima na editora
estava particularmente tenso. O lançamento de um novo livro estava prestes a
acontecer, e a equipe estava focada em garantir que tudo estivesse perfeito. Júlia
e Lucas tinham que trabalhar juntos no projeto, o que significava longas horas
lado a lado, onde a tensão entre eles era quase palpável.
Ela estava revendo os últimos
detalhes de uma apresentação importante quando, de repente, uma risada familiar
soou do corredor. Não precisou se virar para saber que era Isabelle. E, claro, Lucas
estava lá, conversando com ela de forma descontraída, quase íntima, enquanto
trocavam ideias sobre o marketing da nova publicação.
Ela se esforçou para manter o
foco no trabalho, mas algo dentro dela borbulhava de frustração. Por que isso a
incomodava tanto? Não havia nada entre eles... ainda. Porém, aquela sensação de
estar sendo deixada de lado, de ver alguém se aproximar dele de uma forma que
ela nunca conseguira, estava começando a ser insuportável.
Sem conseguir se conter, ela se
levantou bruscamente da cadeira, chamando a atenção de alguns colegas que
estavam ao redor. Decidiu que precisava de ar, de um pouco de distância daquela
situação sufocante. Ela saiu da sala, caminhando até a pequena varanda do
prédio, onde o vento fresco a ajudou a clarear a mente.
Mas, claro, ele apareceu logo
atrás.
— O que está acontecendo com você
ultimamente? — Lucas perguntou, encostando-se na grade da varanda, sem rodeios.
Ela o encarou, surpresa pela
pergunta direta. Ele nunca foi de abordar as coisas assim.
— Não sei do que você está
falando — respondeu, cruzando os braços, em uma postura defensiva.
Ele riu, mas sem humor, e deu um
passo mais perto.
— Você anda diferente. Está
mais... irritada. Reservada. E sempre que eu falo com você, parece que está a
quilômetros de distância.
Ela franziu o cenho, tentando
manter a fachada de indiferença, mas sabia que ele estava certo. Seu
comportamento nas últimas semanas não tinha passado despercebido.
— Talvez seja o estresse de todo
esse projeto — ela respondeu, desviando o olhar.
Ele não pareceu convencido.
— Ou talvez tenha a ver com outra
coisa. Isabelle, talvez? — ele sugeriu, a voz carregada de uma provocação que
ela não esperava.
O nome de Isabelle atingiu-a como
uma flecha, e seu corpo enrijeceu. Não tinha como negar agora. Ele sabia.
Talvez sempre tivesse sabido.
Ela tentou manter a compostura,
mas a irritação e o ciúme que vinham crescendo dentro dela transbordaram.
— O que você quer que eu diga?
Que é irritante ver você e Isabelle se dando tão bem enquanto nós... — ela
interrompeu, quase sem querer, e então percebeu o que estava prestes a dizer.
Ele ergueu as sobrancelhas, a
expressão mudando de provocação para surpresa.
— Nós o quê? — perguntou
suavemente, com mais seriedade do que ela estava preparada para lidar.
Júlia engoliu em seco, percebendo
que tinha ido longe demais. Não havia como desfazer o que tinha acabado de
deixar escapar.
— Não importa — disse ela,
tentando encerrar o assunto e dar meia-volta.
Mas ele a segurou pelo braço,
suave, porém firme, o bastante para que ela não pudesse simplesmente fugir
dessa vez.
— Não. Agora você vai me dizer. O
que você quer dizer com isso? — sua voz estava mais baixa agora, quase um
sussurro, mas havia uma intensidade que ela não poderia ignorar.
Ela olhou para o chão, o coração
acelerado. Como é que ela poderia explicar? Nem ela mesma sabia direito o que
estava acontecendo em sua cabeça e, mais ainda, em seu coração. Desde quando
ela começou a se importar tanto assim?
— Eu só... — começou, mas as
palavras pareciam fugir.
O vento ao redor deles se
intensificou, enquanto o silêncio se estendia por alguns segundos, cada um dos
dois sentindo o peso da conversa. Ele estava esperando uma resposta. E ela...
não sabia se estava pronta para admitir o que, no fundo, já sabia.
— Você está com ciúmes — ele
afirmou, finalmente quebrando o silêncio, como se estivesse ligando todas as
peças do quebra-cabeça. A voz dele não era de provocação, mas de uma suave
constatação.
Ela piscou, chocada com a
facilidade com que ele resumiu o que ela mal tinha admitido para si mesma.
— Não estou — protestou
rapidamente, embora sua voz tenha vacilado.
Ele não se moveu, mas sua
presença ao lado dela parecia ainda mais forte. Havia algo nos olhos dele, uma
compreensão que ela não queria enfrentar.
— Está sim — ele repetiu, mais
suave agora, quase gentil. — E tudo bem.
Aquela última parte a desmontou
completamente. Ela não sabia o que esperava ouvir, talvez uma resposta
sarcástica ou uma nova provocação, mas ele parecia... sincero. De repente, ela
percebeu que toda a armadura que havia construído ao longo dos meses estava
começando a ruir.
Ela deu um passo para trás, se
afastando dele e do que parecia estar crescendo entre os dois.
— Eu não... Eu preciso voltar ao
trabalho — murmurou rapidamente, virando-se antes que ele pudesse ver a
confusão em seu rosto.
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