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Paradoxo: Capítulo 10
O dia do lançamento do livro chegou. A editora estava em alvoroço com os últimos preparativos, mas entre os corredores apressados e os sussurros sobre a competição entre Júlia e Lucas, havia uma calma estranha entre eles. O que antes era uma batalha ferrenha por um cargo de prestígio, havia se transformado numa parceria improvável.
O lançamento do livro mais
aguardado do ano estava a apenas algumas horas de distância. A editora
fervilhava com a correria, os últimos ajustes, e o nervosismo de toda a equipe
era evidente. Para Júlia, no entanto, o que a consumia não era o estresse do
trabalho, mas as palavras de Lucas na semana anterior. Desde o confronto na
varanda, algo havia mudado entre eles. Ela sentia isso nos olhares trocados, no
jeito como ele falava com ela e, mais importante, no jeito que seu próprio
coração reagia sempre que ele estava por perto.
Mas ela não estava pronta para
lidar com aquilo. Como poderia? Toda a vida ela construiu barreiras,
protegendo-se de qualquer coisa que a fizesse se sentir vulnerável. E agora, de
repente, ali estava ele, desarmando-a sem esforço.
Naquela tarde, ela se refugiou na
sala de reuniões vazia, preparando a última apresentação. O brilho da tela do
laptop era sua única companhia, mas a solidão era exatamente o que ela
precisava naquele momento para organizar seus pensamentos. Ou, ao menos,
tentar.
— Achei que te encontraria aqui —
disse uma voz familiar.
Ela suspirou, já reconhecendo
quem era, mas sem coragem de encará-lo de imediato. Lucas fechou a porta atrás
de si, caminhando calmamente até a mesa.
— O lançamento é daqui a pouco —
ela murmurou, ainda com os olhos na tela.
— Eu sei. Mas tem algo mais
importante para resolver antes disso.
Ela finalmente levantou o olhar,
encontrando os dele. Aqueles olhos... o que era isso que fazia com que ela se
perdesse cada vez que ele a encarava daquela forma?
— Mais importante do que o maior
projeto da editora? — tentou soar casual, mas falhou miseravelmente. Sua voz
estava baixa, quase trêmula.
Ele se aproximou e, para sua
surpresa, puxou uma cadeira, sentando-se ao seu lado. Diferente das outras
vezes, ele não estava provocando. Havia uma seriedade no ar que fez o coração
dela bater ainda mais rápido.
— Nós — ele disse, diretamente. —
Nós somos mais importantes agora.
Ela sentiu o ar ser arrancado de
seus pulmões. Não tinha como fugir dessa conversa. Não mais.
— Eu não sei o que você quer que
eu diga — ela murmurou, desviando o olhar.
Ele balançou a cabeça,
impaciente.
— Eu não quero que você diga nada
que não queira. Mas estou cansado de fingir que isso entre nós é só competição
ou um capricho. A verdade é que estou apaixonado por você. Há algum tempo. E eu
acho que você também sente isso, mas tem medo de admitir.
As palavras dele pairaram no ar,
pesadas, intensas. Ela se virou para ele, chocada com a confissão. Nunca
esperava que ele fosse tão direto, tão vulnerável.
— Você está... apaixonado? — ela
repetiu, quase sem acreditar.
Ele sorriu de leve, como se a
resposta fosse óbvia.
— Sim. E já faz um tempo. Eu
tentei esconder, tentei negar, mas não posso mais. Eu te amo. E ver você com
esse ciúme todo... bem, só deixou isso ainda mais claro para mim.
Ela ficou em silêncio,
processando tudo aquilo. Era o momento que sempre imaginou, e, no entanto,
agora que estava diante dela, a insegurança a dominava. Isabelle, o trabalho, a
rivalidade... tantas desculpas vieram à sua mente. Mas a maior de todas era o
medo de se machucar.
— Eu... — ela começou, mas as
palavras pareciam presas. Como ela poderia admitir algo que temia tanto? Amar
significava arriscar, e arriscar significava poder perder tudo. Ela não estava
pronta para isso. Ou estava?
Ele observou o silêncio dela com
paciência, mas ela sabia que ele esperava por uma resposta.
— Eu não sei o que fazer com isso
— ela confessou, a voz baixa e incerta.
— Você não precisa saber agora.
Só... seja honesta comigo. Você sente algo por mim?
Ela hesitou por um longo momento,
encarando o rosto dele. Ele estava sendo tão honesto, tão aberto, e ela sabia
que deveria retribuir a mesma sinceridade. Mas, por mais que quisesse, o medo
ainda a segurava.
— Eu... sinto, sim — ela admitiu,
finalmente. — Mas isso me assusta. Tudo isso me assusta.
Ele sorriu, com uma ternura que
ela não esperava.
— Eu também estou assustado. Mas
acho que vale a pena tentar, não acha?
Ela respirou fundo, sentindo a
tensão se dissipar aos poucos. Ele não estava exigindo nada dela, apenas sendo
honesto e deixando claro que, para ele, os sentimentos eram reais. E, de
repente, ela percebeu que talvez estivesse pronta para arriscar.
— Vale a pena — ela concordou,
quase num sussurro, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
Ele se levantou da cadeira e se
aproximou ainda mais, estendendo a mão para ela. Sem hesitar, ela a pegou,
sentindo a segurança daquele toque. Um toque que prometia não mais rivalidade,
mas algo novo. Algo que ela nunca imaginou que surgiria entre eles.
— Vamos? — ele perguntou.
— Sim — ela respondeu.
E, naquele momento, sabia que,
pela primeira vez, estavam começando algo real.
*******
Enquanto eles caminhavam juntos
em direção à sala de reuniões para o lançamento do livro, a tensão da
competição parecia uma lembrança distante, substituída pela certeza de que, não
importava o que acontecesse, eles estariam lado a lado. Mas o mundo ao redor
deles, especialmente dentro da editora, ainda estava à espera de um desfecho:
quem seria escolhido para a vaga de prestígio?
O chefe, Sr. Almeida, passou no
corredor por Júlia e Lucas, mas havia um brilho diferente em seus olhos. Ele
olhou para os dois, que agora estavam lado a lado, e sorriu de uma maneira que
ninguém esperava.
Na sala de reuniões, a equipe
estava reunida para ouvir o tão esperado anúncio do Sr. Almeida. As mãos de Júlia
estavam ligeiramente suadas, e Lucas estava com a expressão habitual de
confiança, mas ela sabia que ele estava tão ansioso quanto ela. Por mais que
tentassem disfarçar, essa decisão definiria não apenas suas carreiras, mas o
rumo do que estavam construindo juntos.
Quando o Sr. Almeida entrou,
todos os olhares se voltaram para ele. Ele olhou ao redor da sala e, com um
sorriso enigmático, fez o anúncio:
— Após muita reflexão e
avaliação, ficou claro para mim que essa competição nos mostrou algo que
ninguém esperava. Não foi apenas uma disputa entre dois grandes talentos, mas o
surgimento de algo ainda maior. Júlia, Lucas, vocês não são apenas rivais
excepcionais. São uma dupla inovadora que transformou essa competição em
colaboração.
— Tenho observado vocês dois
durante esse processo, e admito que a competição foi acirrada. Ambos se
superaram, não apenas nas suas propostas, mas no crescimento que mostraram
individualmente e, principalmente, como equipe — disse, fazendo uma pausa
significativa.
Eles trocaram olhares rápidos,
ainda incertos sobre o que aquilo significava.
A sala ficou em silêncio,
enquanto o chefe se aproximava de ambos.
— O que ninguém esperava, nem eu
— ele continuou —, é que, ao forçar vocês a competirem, eu inadvertidamente
criei a melhor dupla que já vi nesta editora.
Ele fez uma pausa dramática antes
de anunciar:
— E é por isso que tomei a
decisão de criar um novo cargo. Vocês serão os líderes conjuntos deste novo
projeto. Não escolhi um vencedor porque, juntos, vocês são invencíveis!
Fez uma curta pausa e continuou:
— A partir de agora, não haverá
vaga para um. Haverá uma vaga para dois. Quero que ambos liderem este novo
projeto juntos. Suas ideias complementam uma à outra de forma única, e acredito
que, como dupla, vocês podem levar esta editora a novos patamares.
Júlia sentiu um sorriso tomar
conta de seus lábios, e quando olhou para Lucas, ele estava com a mesma
expressão. De repente, tudo fez sentido. A rivalidade entre eles havia se
transformado em algo muito mais forte, tanto pessoal quanto profissionalmente.
— Então, o que me dizem? — Sr. Almeida
perguntou com uma leve provocação.
Um murmúrio de surpresa tomou
conta da sala, mas tudo o que Júlia conseguia ouvir era o som do próprio
coração. Ela se virou para Lucas, e o sorriso cúmplice que ele lhe deu dissipou
todas as dúvidas que ela ainda pudesse ter sobre o que sentia.
Eles se entreolharam mais uma
vez, um entendimento silencioso passando entre eles. Agora, não havia mais
dúvidas.
— Aceitamos o desafio —
responderam juntos.
A reunião foi concluída com
aplausos, e à medida que todos se dispersavam, o clima entre os dois havia
mudado. Eles já não eram mais competidores. Agora, eram verdadeiramente parceiros
no trabalho.
*******
Naquela noite, após o evento de
lançamento, Júlia e Lucas caminharam
pelas ruas da cidade, a brisa suave contrastando com a agitação que vivenciaram
ao longo das últimas semanas. Eles conversaram sobre o futuro, sobre o projeto,
sobre tudo, menos sobre o que ainda estava pendente entre eles.
Foi só quando pararam diante de
uma cafeteria iluminada por luzes quentes que Lucas quebrou o silêncio:
— Sabe, há algum tempo eu jamais
me imaginaria dizendo isso, mas... estou feliz que tenha sido você — seus olhos
brilhavam com sinceridade.
Ela sorriu, sentindo uma leveza
inesperada.
— Eu também... por mais louco que
tenha sido, foi a melhor coisa que aconteceu.
O silêncio que se seguiu foi
cheio de tudo que não precisavam dizer em palavras. Quando seus olhares se
cruzaram, havia mais do que simples gratidão ou alívio pelo fim da competição.
Ali, no meio de um capítulo encerrado de suas vidas, algo novo começava a se
desenrolar.
Ele deu um passo à frente, como
se aquele momento estivesse se desenhando há muito tempo, e ela, pela primeira
vez, não sentiu necessidade de resistir. Uma brisa suave acariciava a pele
deles, e Lucas, com um olhar profundo e carregado de emoção, deslizou os dedos
pelos cabelos de Júlia, afastando-os com uma ternura quase reverente. O mundo
ao redor pareceu parar enquanto ele se aproximava, e no toque suave de seus
lábios, o universo deles mudou para sempre. O beijo não era apenas um gesto,
mas a confirmação de um desejo reprimido, de algo que já não podiam negar. A
tensão de outrora se dissolveu, dando lugar a um sentimento intenso e
irresistível, como se o tempo houvesse criado aquele exato momento apenas para
eles.
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