Cuidado com os monstros que você cria

O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson e Frankenstein, de Mary Shelley são dois de meus livros favoritos, que sempre me fazem refletir sobre o mesmo aspecto: os monstros e seus criadores.

Ora, a obra de Stevenson, apesar de estar sendo contada em terceira pessoa nos conta claramente sobre, como o título diz, um médico e um monstro, que no fim descobrimos ser a mesma pessoa. Não conseguimos ver o lamento do dr. Jekyll sobre a situação antes de seu depoimento, mas acredito que se pudéssemos, eu teria por ele o mesmo tanto de compaixão que tenho pelo Victor Frankenstein: nenhuma.

É difícil para mim, imaginar uma só pessoa que leia esses livros e sinta pena de Jekyll ou de Victor. Afinal os acontecimentos posteriores foram apenas uma consequência da ganância que eles possuíam. Suas criaturas não surgiram por motivos altruístas ou por acidente, não. Jekyll criou Hyde para ser mau e sair impune, enquanto Victor criou "A Criatura" por uma obsessão em ser o cientista que criou vida, que criou um ser humano perfeito!

Mas o que houve quando deu errado?

Jekyll perdeu o controle que tinha sobre Hyde, tantas eram as vezes em que Jekyll se transformava nele, que Hyde estava dominando a consciência do médico. Suas ações tão perfeitamente calculadas, saíram do controle a ponto de Jekyll precisar esclarecer sua história em um depoimento, antes de deixar Hyde tomar sua consciência por inteiro.

Victor, quando trouxe sua criatura a vida e viu que ele não era perfeito, o que ele fez? ELE FUGIU! E a criatura por mais horrenda que fosse, não conhecia a maldade até ser brutalmente rejeitada por Victor. Foi a falta de responsabilidade de Victor com a sua própria criação, que a transformou em um monstro. E nessa história os lamentos do personagem estão ali quase o tempo todo.

Como posso sentir compaixão por alguém que agiu como Victor agiu? Ele teve chances de mudar o cenário em vários momentos quando o monstro tentou se aproximar, e ainda assim o rejeitou.

O que quero chegar com tudo isso, não é justificar as ações dos monstros, mas sim dizer que a condenação que eles recebem deveria ser dada primeiramente a quem criou o monstro. 

Portanto, a falta de compaixão por Jekyll e Victor é justificável, pois ambos tiveram oportunidades de evitar o caos que se seguiu, mas optaram por fugir ou ignorar as consequências de seus atos. As condenações que recaem sobre Hyde e a criatura de Frankenstein são, na verdade, reflexos da condenação que seus criadores merecem. Estes são, em última análise, os verdadeiros monstros, cuja ganância e irresponsabilidade desencadearam as tragédias que se desenrolam em ambas as histórias.

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