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O Crime da Rosa (2023)

Nicholas Meyer passou quatro anos brincando de gato e rato com um perigoso serial killer, que deixava rosas brancas perto de suas vítimas. Mas quando a Interpol envia o agente especial Kieran Sparks para colaborar no caso, a verdade perturbadora se mostra mais próxima do que eles imaginavam.



Já estou nessa há bastante tempo.
Vi quando o crime da rosa começou, e provavelmente serei quem o verá solucionado.

Não sei, já faz quatro anos? Desde que esse assassino começou a brincar de gato e rato comigo, e quando estou prestes a descobrir quem ele é, ele encontra uma forma de virar tudo de ponta cabeça.

Uma pequena parte de mim acha isso levemente divertido. A outra, quer acabar com isso o mais rápido possível.

O modus operandi é algo que nunca entendi completamente, mas de alguma maneira, parecia funcionar na mente distorcida do assassino. Perto de um cadáver cheio de sangue, lá estava uma pequena e delicada rosa-branca. Uma rosa-branca.

Se ao menos fosse uma rosa-vermelha, mas não, o assassino escolheu uma cor que simboliza pureza e inocência, e a colocou perto de cenas horrendas.

Mas esse assassino cometeu um grande erro, quando matou um importante embaixador, e o crime da rosa se tornou internacional.

Logo após isso, conheci Kieran Sparks, agente especial da Interpol. Era um homem intrigante, com certeza. Às vezes, um pouco irritante. Todos reconheciam o quanto ele era extraordinário — O Sherlock Holmes do nosso tempo, alguns diziam — Mas, na verdade, ele era apenas um homem, como eu. E ele podia falhar.

Mas parecia que o assassino não tinha medo da Interpol, porque ele continuava seu jogo distorcido como se nada estivesse acontecendo. E nem mesmo Kieran, com toda a sua genialidade, podia descobrir quem era o assassino.

Durante a investigação, minha equipe tentou agradar Kieran a qualquer custo, mas ele nunca baixava sua guarda. Ele trabalhava sozinho, e estava cem por cento certo de que seu jeito era o único jeito.

Foi isso que fez com que eu quisesse me aproximar dele em primeiro lugar.

— Olá — Me aproximei de sua mesa e coloquei uma xícara de café preto bem na frente dele

Kieran olhou para o café. Depois para mim. E depois de alguns segundos, ele sorriu.

— Finalmente alguém acertou.

— O que quer dizer?

— Sua equipe simplesmente assumiu que eu gostava de chá, por causa de onde nasci. Victoria me trouxe camomila, Alejandro trouxe bergamota, e os trigêmeos trouxeram erva-doce.

— Também não gosto de chá — Afirmei — E sou alérgico a erva-doce

— Você é Nicholas Meyer, certo? Vi seus relatórios, é um excelente detetive.

Eu sabia que Kieran não elogiava ninguém. Você realmente precisava ser especial para ganhar um elogio dele. Mas eu sabia que era o melhor.

— Nossa! Obrigado Sr. Sparks — Agradeci com um aceno de cabeça — Devo ir agora, acho que está muito ocupado com o caso e não quero te incomodar.

Já estava de saída quando ele me chamou novamente.

— Na verdade, eu estava prestes a falar com você, Sr. Meyer

— Oh! Tudo bem então.

— Por favor, sente-se — Kieran apontou para uma cadeira em sua frente. Ele bebeu um gole do seu café preto antes de recomeçar a falar — Soube que você era o cabeça da investigação antes da Interpol me enviar.

— Isso mesmo Sr. Sparks. No entanto, confesso que não tivemos muito progresso.

— É, dá para perceber

Kieran se expressava arrogantemente, mas eu tentei não me importar com isso. Ainda queria que ele me escolhesse para liderar a investigação com ele.

— Reconheço, — ele continuou — que o que torna a investigação muito mais difícil é que não sabemos como ele se parece, ou como exatamente ele age. Acredito que, já que você estava liderando a investigação, talvez tenha alguma visão sobre tudo isso.

— Na verdade, tenho

E eu tinha muitos pensamentos sobre isso. O assassino era esperto, mas também gostava de chamar atenção para seus crimes. Pessoas eram mortas em lugares públicos, pontos turísticos famosos, e ainda assim ninguém o percebia. Mas como ele sabia que estaríamos procurando por ele, parecia que ele só queria nos confundir. Então, quando as evidências indicavam um lugar, eu seguia outra direção. E contei tudo isso ao Kieran.

— Ótimo ponto de vista. Mas isso não te levou a lugar algum.

— Eu sei, eu já tinha falado-

— Então, qual é sua nova estratégia? Se continuar repetindo os mesmos passos, esse assassino nunca será encontrado.

Ele me pegou de surpresa. Eu não tinha uma nova estratégia, o que ele esperava?
Kieran tirou os papéis de cima de sua mesa e os organizou. Ele estava de saída.

— Sei que é o melhor aqui, por isso te darei uma chance. Me mostre algo que realmente funcione até a próxima semana. Caso contrário, pedirei que a Interpol mande uma nova equipe para substituir a sua, o que também inclui você.

Kieran terminou de beber o café e me entregou a xícara vazia.

— A propósito, o café estava ótimo
E foi embora.

Sparks não podia me tirar do caso. Estou nele desde o início!

Mas eu iria provar meu valor. E sabia exatamente por onde começar.

Porém, na semana seguinte, outra pessoa foi assassinada em frente a uma escola primária. A rosa-branca estava lá, e como de costume nós a pegamos como evidência.

— Tenham cuidado com a rosa. Temos que fazer uma verificação para encontrar impressões digitais — Kieran ordenou, chegando no departamento.

"Ele fala como se nunca fizéssemos isso", pensei comigo mesmo.

— O último assassinato foi nessa mesma vizinhança — afirmei — Nunca aconteceu assim, o assassino sempre agia nos lugares mais aleatórios possíveis.

Kieran finalmente prestou atenção em mim.

— Então, é possível que o próximo também ocorra por aqui.

— Sim! Podemos olhar nos mapas, calcular as distâncias, talvez tentar prever quem será a próxima vítima com base nas anteriores.

— Agora concordamos — Kieran pareceu satisfeito

— Você disse que minhas estratégias não estavam funcionando. Talvez o óbvio realmente nos leve até a resposta.

Aquele assassinato ocorreu em um fim de tarde, então quando quase tudo estava resolvido, Kieran dispensou o resto da equipe e passamos a noite inteira no escritório, trabalhando na nova estratégia.

No entanto, como dois homens, não tão mais jovens, pegamos no sono, e nossas cabeças descansavam em cima da mesa.
Não teria sido um problema se um de nós acordasse antes e então acordasse o outro. 

Mas com certeza era um problema eu acordar, e perceber que Kieran não estava ali.

— Sparks? — Chamei, mas ninguém respondeu — Sparks, cadê você?

Sem resposta.

Comecei a ficar preocupado. Estava tudo escuro, então caminhei até a porta da frente. Tive a vaga impressão de que o chão estava molhado. Me perguntei se o teto estava com algum vazamento de novo. Mas isso não importava, eu precisava achar Kieran.

No entanto, quando saí, vi a cena mais aterrorizante, nojenta e perturbadora que já tinha visto na vida — E eu sendo um detetive, já vi muita coisa.

Primeiro vi os sapatos cobertos de sangue, e percebi que a umidade que senti debaixo dos meus pés não era água. Então vi o peito cheio de buracos. Buracos que só podiam ter sido feitos por uma faca.

O pescoço e a boca também estavam cobertos de sangue, e a vítima tinha seus olhos abertos, em choque.
Era apenas um civil. E em seu peito cheio de buracos estava a rosa-branca.

Mas o que me surpreendeu foi que havia um banco, não tão longe de onde a vítima foi encontrada. E alguém estava dormindo naquele banco. Um homem encapuzado, segurando uma faca.

Era o assassino que procuramos por tanto tempo. E eu o conhecia bem. Tire seu moletom e seus óculos, e você encontrará um rosto que pode ser reconhecido em qualquer lugar.

Era ele o tempo inteiro. Kieran era o assassino.

Liguei para o resto da equipe, e eles vieram imediatamente. Eu precisava de suporte para prendê-lo, e precisava de mais testemunhas para o que eu havia visto.

Jeremy, um dos trigêmeos, se aproximou do banco, e acordou Kieran, enquanto o resto de nós apontava as armas para o assassino.
Kieran parecia perdido. Confuso. Ele olhou para seu suéter e então viu a faca ensanguentada em sua mão. Ele olhou para todos nós. Medo e choque eram refletidos em seus olhos azuis.

— Kieran Sparks — começou Jeremy — você está preso

Eu não acompanhei os interrogatórios de Kieran nos próximos dias. Estava muito assustado para me envolver com mais coisas desse caso. Eu estava perto do assassino naquela noite. Se eu não tivesse dormido, podia tê-lo pego antes que ele fizesse mais vítimas.

E ele podia ter me matado quando eu tentasse impedi-lo.

A única coisa que veio aos meus ouvidos, era que Kieran não sabia o que acontecera. Ele disse que não se lembrava de ter matado aquelas pessoas. Na verdade, ele jurou várias vezes que não havia feito nada, que era inocente. Mas, quando as rosas-brancas foram encontradas em seu porão, ele não podia negar. Suas impressões digitais foram identificadas nas novas evidências. Ele foi encontrado com a arma do crime em mãos, e ele tinha as rosas.

Não sei exatamente o que aconteceu com ele, mas com certeza ele já estava fora da Interpol e atrás das grades. Ele teve alguns privilégios, após algumas sessões de terapia, ser diagnosticado com transtorno dissociativo de identidade — o que justificaria ele não se lembrar de cometer aqueles assassinatos. No entanto, o estrago já estava feito, e Kieran tinha que pagar pelo seu crime.

E quanto a mim, confesso que o jogo foi divertido. Mas eu já estava cansado de jogar.
Ainda me espanta, como um homem tão cheio de si como Kieran Sparks, realmente acreditou que ele matou aquelas pessoas e simplesmente esqueceu de tudo. Meu plano funcionou perfeitamente, e agora posso ficar em paz sabendo que meus crimes foram cobertos.

Foi, realmente, um jogo muito divertido.


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