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No Último Natal - especial de Natal (2024)

Após superar o término de um relacionamento e reencontrar a si mesma, Anna decide voltar à pequena cidade onde cresceu para passar as festas de fim de ano com sua família.  Ela só não esperava que naquele Natal, ela reencontraria um velho amigo que despertaria novas emoções em seu coração. Mas será que após ter tido o coração partido no último Natal, ela está pronta para finalmente entregá-lo a alguém especial?


Naquele Natal, decidi voltar para Pinecone Valley e passar as festas com minha família e amigos. Gostava de trabalhar na metrópole, mas estar em casa me trazia uma sensação de conforto e me fazia lembrar de momentos felizes. E eu certamente precisava criar novas memórias depois do último Natal. Não levei muitas bagagens, apenas o suficiente para passar o Natal e o Ano Novo.

Parei em frente à porta da casa dos meus pais e toquei a campainha. A varanda estava decorada com luzes natalinas e eu conseguia sentir o cheiro de biscoito assando pela janela entreaberta. Minha mãe, Erica, abriu a porta e vi seu avental de confeitaria cheio de farinha.

— Anna! — exclamou minha mãe, abrindo os braços e me abraçando com cuidado para não me sujar de farinha, — Querida, senti sua falta! Estou muito feliz que tenha vindo.

— E por que eu não viria? É Natal! — disse alegremente, entrando com minha bagagem.

— Ah, é que… você sabe, o último Natal…
Balancei a cabeça antes que ela continuasse

— Tive um ano inteiro para superar aquilo, mamãe. Acredite, já está enterrado no passado.

— Tem certeza?

— Claro que tenho. Mas chega de falar disso, cadê todo mundo?

— Seu pai e seus irmãos foram ao salão de festas para terminar os preparativos da festa de hoje a noite. Estou terminando a última fornada de biscoitos para levar lá.

— Bom, nesse caso eu devo ajudá-la…

— Mas de jeito nenhum! Você pegou um voo longo, deve estar exausta! Suba, tome um banho quente e descanse. A casa estará bem barulhenta em algumas horas, então se eu fosse você, aproveitava.

Minha mãe me deu uma piscadela, fazendo-me rir, e eu a obedeci. Tomei um banho quente e fui para meu antigo quarto. Aquele ambiente me trazia conforto, nostalgia, mas também um pouco de amargura por causa do último Natal. Pelo menos isso tinha como resolver.

Peguei as polaroides da parede e as rasguei para jogar fora. Pronto. O quarto estava muito melhor. Desde que superei o último Natal, fazia questão de destruir tudo que me lembrasse os últimos três anos, não porque estava sofrendo, mas porque não fazia mais sentido guardar lembranças físicas de um passado que não valia mais nada para mim.

Depois disso, me deitei em minha cama, e mesmo sem a intenção, acabei pegando no sono.

***

Como minha mãe disse sabiamente, a casa estaria mesmo barulhenta em algumas horas. Acordei ouvindo as vozes de meu pai e meus irmãos de volta. Esfreguei os olhos e desci as escadas para cumprimentá-los. Após colocar as novidades em dia com meu pai e irmãos mais novos enquanto tomávamos chocolate quente em frente a lareira, minha irmã mais velha, Jade, me chamou até a varanda para uma “conversa entre irmãs”.

— Então… você tem falado com o Christian? — perguntou em um sussurro, como se estivéssemos falando de algum tópico sensível.

— Não, por que estaria?

Ela deu de ombros.

— Sei lá… você gostava tanto dele. Não, você era louca por ele, pensei que talvez…

— Eu tivesse tido uma recaída? Não, Jade, depois do último Natal, minha meta de Ano Novo foi superá-lo, e eu a atingi com louvor. — expliquei confiante.

— É mesmo?

— Sim.

— E se eu te disser que… a ex dele se mudou para a Austrália depois que eles brigaram feio no Ano Novo?

Respirei fundo, absorvendo as palavras da minha irmã. Christian e eu rompemos no último Natal porque eu ia passar o fim de ano com a família dele. Acontece, que eu não sabia que a ex mulher dele também estaria lá, com os filhos deles. Isso causou um atrito entre nós, e eu fui embora de Pinecone Valley antes do Ano Novo.

— Não muda nada. O fato de ela estar em outro continente não a impede de trazer a prole para visitar o papai no fim do ano e pegar uma carona.

— Acho que impede. Você não viu a briga, Anna! Foi muito pesada!

Suspirei e dei de ombros. Não mentiria para mim mesma e diria que não desejei que isso acontecesse enquanto tentei superá-lo, mas não achei que realmente aconteceria.

— Olha, eu namorei Christian quase quatro anos, e era a primeira vez que eu passaria o Natal com ele e a família dele. Nenhuma vez ele se importou em contar para mim que a ex mulher sempre levava os filhos para passar o Natal com eles, e que ela ficava junto. Você não tem ideia de como é desagradável quando a família do seu parceiro demonstra na sua cara o quanto gosta da ex dele.

Jade assentiu e concordou com o que eu disse.

— É... com certeza foi bem desagradável.

— Sim… mas estou bem, Jade. Já o superei, e saber que ele cortou totalmente os laços com a ex só me parte o coração pelas crianças, mas de resto, realmente não me importo.

Jade sorriu abertamente e me abraçou de lado.

— Ai, graças a Deus! Sério, eu estava um pouco preocupada, sabe? Você era tão apaixonada por ele, todos tínhamos medo de que passar o Natal aqui de novo fosse doloroso para você.

Ri da preocupação de minha família e balancei a cabeça.

— O Natal é sobre família, e visitar minha família jamais será doloroso.

— É ótimo te ter de volta. — Jade encostou a cabeça no meu ombro, e eu apoiei o queixo em seu gorro de frio. Minha irmã sempre foi baixinha.

— É bom estar de volta. — Sussurrei, sentindo a neve bater contra meu nariz.

***

Mais tarde, todos nos arrumamos para a festa de Natal organizada pelos meus pais. Todo ano, eles organizavam uma festa de Natal para reunir todo mundo da cidade. Essa era uma das graças de uma cidade pequena.

Quando chegamos, reencontrei velhos amigos e tivemos chance de colocar o assunto em dia. Para a minha surpresa (e felizmente) ninguém me perguntou sobre Christian.

Após alguns minutos, me dirigi à mesa de bebidas para pegar uma taça de vinho, quando ouvi uma voz familiar.

— Anna?

Me virei para a voz e lhe dei um sorriso, o mais sincero que consegui. Ele não havia mudado nada, estava exatamente como eu me lembrava: três camadas de agasalhos e um boné de seu time de hóquei preferido.

— Oi, Christian. Como vai?

— Bem! E... e você? Não sabia que vinha esse ano.

Dei de ombros, — Venho à Pinecone Valley todo fim de ano.

Ele pareceu constrangido.

— Sim… é claro.

O silêncio entre nós ficou bastante desconfortável e bebi um gole de vinho para disfarçar. Após algum tempo, ele finalmente disse algo.

— Olha, Anna… me desculpe pelo último Natal. Eu devia ter te contado que a Summer passaria o feriado conosco… fui um idiota.

— Relaxa, Christian, já te perdoei.

Ele pareceu surpreso, com um brilho de esperança no olhar,

— Mesmo? Uau… fico feliz em saber disso, Anna. Fiquei muito mal mesmo quando você foi embora. Não queria que ficasse desconfortável com a minha família. — Ele fez uma breve pausa antes de continuar — Eu… disse que não queria mais ela aqui, com minha família, em mais nada. Feriados, aniversários, enfim… As crianças, sim, mas ela não. A presença dela já causou muitos problemas.

— É, eu soube que vocês brigaram feio no Ano Novo.

Ele assentiu, — Sim, brigamos mesmo, mas… aquela briga tinha que acontecer.

De repente, Christian deu um passo em minha direção, que me deixou levemente desconfortável.

— Olha, eu pensei que talvez… a gente pudesse tentar de novo…

— Não. — Respondi antes que ele terminasse — Não me leve a mal, você é um cara legal, mas depois que terminamos, meus olhos se abriram e eu percebi que você não era aquela ideia que criei de você. Nosso relacionamento tinha muitas falhas e eu sinto que dei a você mais do que recebi. Não tinha equilíbrio nenhum, e eu tive a certeza disso quando vi você e a Summer no último Natal.

— Mas Anna… a Summer morreu para mim, ela não vai mais ficar entre a gente!

— Olha, que bom que vocês brigaram. A ausência dela vai te ajudar a se desprender dessas amarras e você poderá seguir em frente de verdade um dia sem a interferência de ninguém. Mas não será comigo.

Christian estava chocado. Ele realmente esperava que eu fosse aceitar sem pestanejar. Quando namorávamos eu era como um cachorrinho que o seguia para todo lugar, tirava folgas extras do trabalho só para vê-lo e passava horas acordada falando com ele em ligações que eu mesma iniciava. Eu o adorava. Mas enquanto o adorava, perdi a mim mesma, e isso não aconteceria novamente.

Após alguns segundos processando minha resposta, ele assentiu.

— Claro, Anna… eu entendo. — Disse com um sorriso triste, — Você é uma mulher incrível e qualquer um teria muita sorte de estar com você. Você merece ser feliz.

— Você também, Christian. Feliz Natal!

Ergui minha taça e nós brindamos.

— Feliz Natal, Anna. — Ele disse, com um sorriso sincero.

Mas nossas taças mal tinham se afastado quando meu olhar encontrou um rosto familiar que eu não via há muitos anos. Pedi licença ao Christian, já me distanciando e fui até aquela pessoa. Era mesmo…

— Michael?

Quando seu olhar encontrou o meu, ele sorriu e caminhou até mim. Não havia mudado muito, ainda tinha aquele mesmo brilho malicioso e aventureiro no olhar de quando éramos crianças.

— Anna! Meu Deus, olha para você! — Ele passou os braços ao redor de mim e me abraçou, me erguendo no ar.

Michael era irmão de uma das amigas de Jade, e era alguns anos mais velho que eu, mas em cidade pequena todo mundo acabava fazendo amizade. Não nos víamos há muito tempo, desde que ele e a irmã se mudaram com os pais para a Irlanda.

— O que faz aqui? — perguntei assim que ele me pôs no chão.

— Olha, não sei direito, mas de repente senti saudade de casa, especialmente dos biscoitos de Natal da sua mãe, e decidi vir.

— Espontaneamente?

— Exato. Para variar um pouco. — Ele me deu uma piscadela — Nossa, Anna, você está linda! É ótimo te ver de novo.

— Igualmente. Tenho tanta coisa para te contar, será que eu consigo te roubar por alguns minutos?

— Claro, sempre tenho tempo para minha parceira de aventuras. — Ele respondeu e saímos do salão antes que ele fosse abordado pelos outros convidados.

***

Ao invés de conversarmos como adultos, acabamos fazendo bonecos de neve e jogando bolas de neve um no outro. Estar com Michael naquele momento foi como resgatar uma parte da minha infância que eu não tinha ideia do quanto sentia falta.

— E então, como é o Natal na Irlanda? — perguntei, me sentando em um banco perto de onde fizemos nossos bonecos de neve.

— Não é muito diferente, mas você iria adorar. — Michael suspirou e olhou ao redor — Mas nada se compara ao Natal de Pinecone Valley. Senti muita falta de tudo isso. Fico feliz que nada tenha mudado.

— Bom, algumas coisas com certeza mudaram.

— Tem razão, algumas coisas mudaram. Como você. Tem algo… diferente em você agora, não sei dizer o que é. — Michael disse, enquanto me observava com curiosidade como se estivesse procurando algo. Também parei para observá-lo e poderia dizer o mesmo. Ele estava diferente, mas não sabia dizer o que era.

— Acho que só crescemos. — Respondi com um sorriso suave. Michael assentiu e tirou o gorro de neve da cabeça, revelando seu cabelo ruivo.

— Sim, crescemos. Mas aquelas crianças ainda vivem em nós.

— E como vai a Carolina? — perguntei, de repente me lembrando da irmã dele que também não via há muito tempo.

— Está muito bem. Ela se casou recentemente com um irlandês. Ele tem um pouco de medo de mim. — Ele sorriu malicioso. — Não entendo o motivo, eu sou o melhor cunhado que existe!

— Ah, claro! Tenho certeza de que você nunca o espantou com aquelas conversas de irmão mais velho, porque você não é disso! — disse sarcástica.

— Exatamente! Sou muito tranquilo!

Desatamos a rir e senti um calor gostoso em meu coração. Dentro da festa estava lotado, e pude rever vários amigos, com seus rostos cansados por causa do dia cheio, mas rever Michael foi melhor do que qualquer presente de Natal que eu pudesse ganhar.

— Sabe… eu não queria que tivéssemos perdido o contato. — Confessei.

— Nem eu… eu devia ter te procurado, mas às vezes, quando nos mudamos, a rotina não deixa a gente lembrar do que realmente importa.

Concordei com um aceno de cabeça. — Sim. Às vezes esquecemos das pessoas que importam… e também de nós mesmos.

Deixei escapar um suspiro pesado. Minha maior decepção após o término e todo o processo de seguir em frente não foi a mágoa que Christian me causou, e sim a dura realidade sobre o que fiz a mim mesma. Lembrar do relacionamento me deixava mal, porque odiava lembrar o que fiz comigo mesma durante todo aquele tempo.

De repente, Michael segurou minha mão e olhou para mim.

— Os seus irmãos me contaram… espero que não se importe.

Balancei a cabeça.

— Não… está tudo bem, de verdade. Eu só não queria ter me perdido tanto de mim mesma nos últimos três anos, sabe? Foi difícil me reencontrar, e sinceramente, ainda não sei se realmente me achei. Ficou tudo fora do lugar, e eu sei que a culpa foi só minha. — Suspirei — Um dia vou aprender.

— Você sempre foi bem intensa. — Michael disse com um leve sorriso. — Mas nem sempre é uma coisa ruim. O seu problema, Anna, foi só amar demais. Isso é algo que ninguém devia se sentir mal por fazer, mas que infelizmente acontece muito porque a outra pessoa não dá valor.

Michael fez uma pausa e suspirou antes de continuar. Um respiro gelado saiu de sua boca, desaparecendo no ar em seguida.

— Eu queria poder ter estado com você para te lembrar de quem você era… e de tudo que você merece.

Voltei meu olhar para ele e consegui ver a sinceridade em seus olhos. Ele sempre foi sincero daquele jeito. Nunca mudou.

— É mais fácil esquecer quem somos quando nos perdemos tentando ser tudo para outra pessoa.

Michael deu de ombros.

— Bom, se serve de consolo… você sempre foi tudo para mim.

As palavras dele me deixaram tão surpresa que eu não soube como reagir. Abri a boca várias vezes para falar, mas nenhuma palavra saía.

— Eu não estou pedindo para você tomar nenhuma decisão agora. Só quero que você saiba que estou aqui. Que sempre estive e sempre estarei, se você deixar.

Michael se levantou do banco e ergueu a mão para mim.

— Vamos voltar para dentro e roubar alguns biscoitos? — Ele sorriu com divertimento, fazendo-me rir, e eu segurei sua mão.

— Na verdade… acho que tenho uma ideia melhor.

***

Levei Michael para a casa dos meus pais, que estava totalmente vazia, e nós colocamos a mão na massa. Fomos até a cozinha fazer biscoitos de Natal.

— Agora que somos mais velhos, não vamos queimar a fornada inteira — comentei, enquanto cortava a massa com um molde em forma de árvore de Natal.

— Fale por você, minha mãe já até pediu para eu nunca mais fazer chá lá em casa porque eu sempre queimo as ervas.

— Bom, eu controlo o timer do forno então, e você limpa tudo, que tal?

— Às suas ordens, chefe. — Michael bateu continência e eu revirei os olhos, rindo.

Assim que a cozinha estava arrumada e os biscoitos ficaram prontos, fomos para a sala assistir filmes de Natal. Peguei dois suéteres que tinha guardados na minha mala e dei um a ele. Foi um momento maravilhoso, melhor do que se estivéssemos naquela festa que meus pais organizaram.

— Nossa, eu senti muita falta disso. — Michael sussurrou quando o filme acabou. Minha cabeça estava descansando em seu ombro e eu estava quase sonolenta.

— Eu também. Já fazia um bom tempo que eu não fazia isso de parar e assistir um filme. Ainda mais no Natal.

Ele virou a cabeça para me olhar, e os olhos dele estavam tão próximos dos meus. A conexão entre nós parecia palpável, quase elétrica. E, de repente, tudo ao nosso redor pareceu desaparecer. Era só nós dois, ali, naquela sala quente e acolhedora.

— Sabia que… esse é o melhor Natal que tive em muito tempo? — ele disse, a voz baixa e suave.

— Eu também sinto o mesmo. É como se… fosse exatamente o que eu precisava.

Ele hesitou por um momento, respirando fundo, e eu percebi que havia algo mais naquelas palavras não ditas.

— Você sabe que sempre foi você, não sabe? Desde o primeiro dia que te conheci, quando éramos crianças, você foi a única pessoa que eu quis ao meu lado… especialmente agora.

Meu coração acelerou e o mundo pareceu congelar em torno de nós enquanto eu absorvia suas palavras.

— Michael… eu não sabia que você se sentia assim.

Ele aproximou-se um pouco mais, a intensidade em seu olhar fazendo meu estômago dar um nó.

— Eu queria fazer isso há muito tempo.

Com isso, ele levantou a mão e tocou suavemente meu rosto, o polegar acariciando minha bochecha. Senti um arrepio percorrer meu corpo. Ele se inclinou devagar, dando-me a chance de recuar, mas eu não queria. Eu estava pronta para aquele momento.

Então, nossos lábios se encontraram. O beijo começou suave, quase hesitante, como se estivéssemos testando as águas de algo novo e desconhecido. Mas rapidamente se transformou em algo mais profundo, mais significativo. O gosto dos biscoitos ainda estava em minha boca, mas agora era ofuscado pela doçura daquele beijo.

Quando nos afastamos um pouco, ainda sem soltar as mãos um do outro, eu não conseguia parar de sorrir. O calor do momento preenchia cada espaço vazio dentro de mim.

— Eu acho, Anna, que agora descobri porque de repente quis voltar.

Por um momento, hesitei e afastei um pouco o rosto do dele.

— Michael… eu acho que quero isso tanto quanto você, mas…

— Está com medo?

Eu assenti, com medo de que estivesse machucando meu melhor amigo — e a mim mesma.

— Eu só não quero me perder de novo… ou perder você.

Michael assentiu, compreendendo minhas palavras.

— Não importa o que aconteça, Anna, você nunca vai me perder. E no que depender de mim, eu jamais deixarei que você se perca. 

Meu coração batia acelerado, e eu sentia a intensidade das palavras que saíam da boca de Michael. O olhar dele estava cheio de sinceridade, e, por um instante, todas as minhas inseguranças pareceram evaporar.

— Michael, você não entende… — comecei, mas ele me interrompeu.

— Não, deixe-me falar. Sei que a vida pode ser confusa e assustadora. Eu também passei por isso. Mas cada dia que passei longe de você foi como caminhar por um deserto. Eu não quero voltar a viver isso.

Aquelas palavras aqueceram meu coração. Eu queria acreditar que era possível encontrar um caminho que não envolvesse a dor do passado. Michael me observava com tanta intensidade que era difícil não me sentir vista, e, ao mesmo tempo, vulnerável.

— A última coisa que quero é te machucar — continuei, a voz trêmula. — O Natal passado foi difícil. Eu não sabia como seguir em frente, e a ideia de tentar de novo, de dar meu coração a alguém de novo, me assusta.

Michael levou a mão ao meu rosto novamente, o toque delicado, mas firme.

— Eu não sou o Christian. Eu não quero que você mude por mim. Quero que você seja você mesma. E você não estará sozinha nisso. Estarei sempre aqui, para te lembrar de quem você é.

Fechei os olhos por um momento, absorvendo suas palavras. A confiança que ele tinha em mim era um bálsamo, e eu me perguntava se poderia me permitir essa nova chance.

— Você realmente acredita nisso? — perguntei, abrindo os olhos para encontrar os dele.

— Com todo meu coração. Você sempre foi forte o suficiente para superar qualquer coisa. E, se você deixar, eu quero estar ao seu lado enquanto você faz isso.

Senti uma mistura de esperança e medo. O que ele estava oferecendo era lindo e, ao mesmo tempo, aterrorizante. O que aconteceria se eu me deixasse levar? E se tudo desmoronasse de novo?

— E se não der certo? — minha voz era quase um sussurro.

— Então tentaremos de novo. E de novo, e de novo. Porque, para mim, você vale cada tentativa.

Havia uma determinação nas palavras dele que era difícil ignorar. A sensação de estarmos juntos, as risadas compartilhadas, e agora essa conversa séria e profunda, tudo parecia criar uma nova realidade para nós dois. Algo que poderia ser realmente especial.

— Eu não quero perder você, Michael — admiti, a vulnerabilidade em minha voz ressoando entre nós.

Ele sorriu suavemente, seus olhos brilhando com compreensão.

— E você não vai. Somos amigos primeiro, e isso é o que importa. Não tenha medo de me dar seu coração, Anna.

O silêncio se instalou entre nós, um espaço sagrado onde a tensão se transformou em conforto. Senti meu coração acelerar mais uma vez, e a força da conexão entre nós parecia estar nos puxando para mais perto. Com um gesto hesitante, aproximei-me dele, nossos rostos a poucos centímetros de distância.

— Eu quero tentar, Michael. Quero saber como é ser eu mesma ao seu lado.

Naquele instante, ele não hesitou. Com um movimento suave, ele deslizou a mão pela minha nuca e me puxou para mais perto. Nossos lábios se encontraram novamente, mas dessa vez havia uma nova certeza, um entendimento de que estávamos prontos para enfrentar o que viesse.

O beijo era quente e profundo, repleto de tudo o que havíamos vivido e tudo o que ainda poderíamos viver juntos. Era como se o tempo parasse mais uma vez, e eu me sentisse em casa.

Quando nos afastamos, o ar ao nosso redor parecia mais leve, e eu sabia que havia tomado a decisão certa.

— Então, o que você acha que faremos agora? — Michael perguntou, seu sorriso iluminando o ambiente.

— Eu não sei — respondi, ainda um pouco atordoada, mas cheia de esperança. — Mas estou animada para descobrir.

Ele entrelaçou seus dedos nos meus, e naquele momento, o mundo externo se desfez em ruínas. O que importava era que estávamos juntos, prontos para explorar não apenas o Natal, mas também os novos começos que a vida nos oferecia.

E, enquanto as luzes de Natal brilhavam ao nosso redor, senti que essa era apenas a primeira de muitas aventuras que estavam por vir. 

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