Se esse texto te deixar desconfortável, parabéns: seu cérebro ainda reage.
Sabe quando uma opinião viraliza, você lê a situação — geralmente filtrada pela sua bolha — e, sem perceber, adota como sua a visão de outra pessoa sobre algo que você sequer experienciou diretamente?
Isso é o que a cultura dos influenciadores faz com a gente. E acho que ainda subestimamos o quão perigoso isso é.
Antes da pandemia da COVID-19, o acesso à internet já era amplo, mas o isolamento social transformou esse acesso em uma constante quase ininterrupta. Muitos acreditam que, nesse período, "abriram suas mentes", quando, na verdade, houve um processo silencioso e insidioso de fechamento mental. Os algoritmos se ajustaram, e o que parecia uma ampliação de horizontes era, na prática, um funil.
Hoje, consumimos conteúdos mastigados em vídeos curtos — talvez o pior formato já inventado. Tópicos complexos e densos são resumidos em 15 ou 30 segundos, como se fosse possível realmente entender algo assim. A quantidade de informação que recebemos supera nossa capacidade de reflexão. E neurologicamente falando: o que acontece quando tentamos “aprender” demais em um espaço de tempo tão curto?
Não aprendemos nada. Retemos fragmentos, esquecemos rápido e, pior, paramos de questionar. Aquela pessoa que falou com confiança em um vídeo viral de 15 segundos se torna a sua referência sobre um tema que você sequer pesquisou. A opinião dela vira a sua, por osmose.
Claro, vídeos curtos são só o exemplo mais gritante. Mas até conteúdos mais longos — vídeos, textos, podcasts — também sofrem disso. O problema não é só o formato, mas a postura de quem consome: cada vez mais passiva, reativa, ansiosa por conclusões prontas.
E isso é o mais alarmante: estamos terceirizando o pensamento crítico. Adotamos ideias sem questionar, só porque quem falou tem milhões de seguidores, fala com convicção e compartilha o que já estamos predispostos a acreditar.
Me assusta ver como muita gente virou apenas uma repetidora de opiniões — sem reflexão, sem elaboração. A cultura de influenciadores cria a ilusão de que pensar dói, cansa, é perda de tempo. Então nos oferecem “verdades” rápidas, mastigadas, empacotadas para viralizar. E a gente aceita.
É claro que nem todos os criadores de conteúdo agem assim. Muitos dizem “pesquise por conta própria”, ou “não acredite só em mim”. Mas esses são exceção. E mesmo esse conselho — "pesquise" — perdeu a força quando a pesquisa virou ver o que o próximo influenciador está dizendo.
O alerta que deixo aqui não é sobre parar de consumir conteúdo. É sobre recuperar o hábito de pensar, de questionar, de desconfiar. É sobre ter a coragem de não adotar opiniões sem antes filtrá-las pelo seu próprio juízo.
Se você não fizer isso, vai acabar sendo apenas mais um reprodutor de ideias sem raiz. E isso, no fim das contas, é o oposto de ser alguém realmente informado.
(E sim, eu escrevi esse texto pra entrar na sua cabeça. Mas, pelo amor ao futuro já meio perdido da humanidade... PENSE sobre o que eu escrevi.)
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