Romeu e Julieta: O trágico retrato do amor juvenil como caminho direto para a estupidez — e, eventualmente, a morte
Romeu e Julieta é mais uma prova de que esse "amor jovem", afoito e intenso que tanta gente ainda romantiza, na verdade, é só um grave sinal de estupidez. E pior: ainda vai continuar matando gente por aí.
Escrita na Era Elisabetana, a peça tinha como objetivo central mostrar como a rivalidade entre duas famílias poderia arruinar a vida de jovens inocentes. Mas Shakespeare, como bom observador da natureza humana, foi além. Sua crítica não se limitou à guerra entre Capuletos e Montéquios: ele foi cirúrgico ao retratar o comportamento descontrolado e irracional de Romeu e Julieta.
Comecemos por Romeu: um adolescente melodramático que, ao início da peça, mal consegue levantar da cama porque a moça que ele amava decidiu se manter casta. A essa altura, ele já parecia à beira de uma parada cardíaca, tamanha a intensidade de seu sofrimento amoroso. Para animá-lo, Mercúcio e Benvólio decidem levá-lo ao baile de máscaras dos Capuleto — um plano brilhante, considerando que se tratava da casa da família rival. E vale lembrar: isso tudo aconteceu no mesmo dia.
É nesse baile que Romeu vê Julieta pela primeira vez, e, como num passe de mágica, todos os resquícios do amor por Rosalina evaporam. Em questão de minutos, ele está fazendo juras de amor eterno para uma garota cujo nome nem sabia até instantes antes. Julieta, ao descobrir que seu "amor da vida" era um Montéquio, reage com a mesma intensidade exagerada de Romeu no início da peça. Um drama digno de novela — ou de adolescentes que se acham protagonistas de uma tragédia shakespeariana.
A partir daí, ambos mergulham em uma sequência de decisões absurdamente precipitadas e inconsequentes. E o mais interessante é que Shakespeare não tentou amenizar nada disso. Ele expôs essa imprudência com clareza desconcertante. Qualquer leitura minimamente atenta revela que esses dois são tudo, menos um exemplo de amor maduro ou admirável. Mais chocante ainda é ver adultos participando dessa loucura: frei Lourenço, a ama... todos compactuam com o surto coletivo.
Sinceramente? Eu torci pelo Conde Páris. 😂
Falando sério, ele era a escolha mais sensata para Julieta, considerando o contexto da época. Era um conde respeitado, querido pela família dela, e demonstrava um afeto sincero. E, sejamos justos: ele não estava sequestrando a moça, só tentando casar-se conforme os costumes da época — que, sim, eram problemáticos, mas ainda assim ele era infinitamente mais estável que Romeu.
Dizer que Romeu e Julieta são símbolos de amor verdadeiro é, no mínimo, perigoso. O que eles representam é o retrato perfeito do que acontece quando se confunde intensidade com profundidade, paixão com sabedoria, e impulso com amor. Não há nada — absolutamente nada — nessa história que mereça ser romantizado.
O simples fato de serem adolescentes já seria razão suficiente para questionar a validade de qualquer decisão que tomem. Mas a tragédia maior está em quem, hoje, ainda enxerga nesse tipo de relação uma forma ideal de amar. Porque, convenhamos: quem toma decisões drásticas em nome de um amor instantâneo provavelmente não está vivendo uma história de amor — está encenando uma tragédia anunciada.
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