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O caminho das migalhas - especial de Halloween (2024)

O Caminho das Migalhas é um reconto enigmático de "João e Maria" ambientado nos dias atuais. Maria recebe uma série de pistas que a levam a revisitar memórias de sua infância e a fábrica abandonada onde tudo começou. Lá, reencontra seu irmão João, que guarda um sombrio segredo do passado. À medida que a verdade vem à tona, Maria descobre que algumas histórias de infância têm consequências aterradoras e inescapáveis.

Maria acordou sobressaltada. O quarto estava escuro, mas a luz suave do poste na rua filtrava-se pela janela, criando sombras que dançavam nas paredes. Ela olhou ao redor e não viu João. O irmão sempre estava ao seu lado, especialmente desde que seus pais desapareceram de forma misteriosa semanas antes.

— João? — chamou, a voz ecoando pelo apartamento vazio.

Nenhuma resposta.

Levantou-se, os pés descalços tocando o piso frio, e foi até a cozinha. Na bancada, onde horas antes estavam os restos do jantar, havia algo estranho. Um bilhete, escrito com a caligrafia de João, dizia: "Siga o caminho das migalhas."

Maria franziu a testa. Aquilo era alguma brincadeira bizarra? Na infância, costumavam se divertir recriando histórias antigas, especialmente a de João e Maria, o conto que a mãe sempre lia para eles antes de dormir. Mas agora? Em meio a todo o caos?

Ainda assim, algo dentro dela a impeliu a seguir as palavras. Pegou seu casaco, calçou os tênis e saiu pela porta. Lá fora, o silêncio da madrugada era quase opressor. Mas, debaixo do poste, viu a primeira migalha – um pequeno pedaço de papel, quase invisível, que voava ao sabor do vento. Agachou-se e o pegou. Desdobrando o papel, encontrou uma única palavra escrita: "Lembranças."

Maria seguiu em frente, buscando a próxima migalha. Em cada esquina, uma nova pista, um novo fragmento de memórias que só ela e João conheciam. "A casinha na floresta", dizia o segundo papel. Ela se lembrou das excursões que faziam para a cabana abandonada na floresta perto de sua cidade. "O bolo de chocolate," dizia o terceiro. O bolo favorito que a mãe fazia aos domingos, até o dia em que tudo mudou.

A cada migalha, mais distante ela ia. Cada pista era como uma peça de um quebra-cabeça emocional, forçando-a a revisitar memórias que havia tentado esquecer. João sempre tivera uma imaginação vívida, mas isso estava indo longe demais. Onde ele estava levando-a?

Depois de quase uma hora de caminhada, as migalhas a guiaram até a periferia da cidade, onde ficava a velha fábrica abandonada. Eles costumavam brincar ali, fingindo que era uma fortaleza mágica que escondia segredos. Agora, porém, a fábrica parecia muito mais sombria, as janelas quebradas e o mato alto dando-lhe uma aura quase sobrenatural.

Maria hesitou na entrada, mas algo a puxava para dentro. O eco de seus passos ressoava pelas paredes, criando um ambiente assombroso. No centro do salão principal, viu a última migalha. Era uma pequena folha de caderno, com uma frase simples: "Você precisa lembrar."

Ela fechou os olhos e, de repente, as lembranças voltaram com uma força esmagadora. Não era apenas uma história infantil. Não era uma brincadeira. Aquela noite fatídica... Ela e João tinham saído para explorar a floresta perto de casa. Tinham se perdido. Ficaram à mercê de uma figura sinistra que os levara para uma cabana. Não uma feita de doces, mas uma casa de horrores.

Mas Maria escapou. Ela fugiu, deixando João para trás.

Quando abriu os olhos, o salão estava diferente. À sua frente, sentado em uma cadeira velha e enferrujada, estava João. Mas ele não era mais o mesmo garoto que ela lembrava. Seus olhos estavam fundos, o rosto pálido. Havia algo de perturbador nele.

— Você se lembra agora? — ele perguntou, a voz carregada de ressentimento.

— João... eu... eu tentei... Eu não sabia como te salvar... — Maria balbuciou, lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Você me abandonou — ele disse calmamente. — Deixou-me para aquela... bruxa.

Maria deu um passo para trás. — João, não. Eu nunca quis te deixar.

Ele se levantou lentamente, aproximando-se.
 — Mas você deixou. E agora eu a trouxe de volta. Ela está sempre à espreita, sempre esperando por você.

Maria sentiu uma presença ao seu redor, uma sombra que parecia envolver o ambiente. O ar ficou pesado, quase sufocante. — Quem... quem é ela?

João sorriu, um sorriso sombrio. — Ela nunca foi apenas uma história. Ela vive nas escolhas que fazemos, nas coisas que deixamos para trás. E agora, ela veio cobrar o que é dela.

A sombra se aproximava, e Maria, em desespero, tentou correr. Mas não havia mais saída. O caminho das migalhas sempre levara ao mesmo destino. Ela só não percebeu isso até ser tarde demais.

E naquele momento, no coração da velha fábrica, Maria entendeu que algumas histórias nunca terminam como nos contos de fadas.

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