Nos sonhos, um homem de olhos verdes a leva para aventuras inesquecíveis, mas seu rosto some ao acordar. Cansada de esquecê-lo, ela anseia pelo encontro real. Uma promessa onírica se concretiza numa noite qualquer, quando a voz familiar a encontra. O homem dos sonhos surge, revelando um passado compartilhado e a promessa de uma nova aventura, agora desperta.
Ele está aqui de novo.
Todas as noites, quando durmo, ele me recebe com um sorriso e braços abertos. E já estou cansada disso.
Não de vê-lo. Mas de nunca lembrar de seu rosto quando acordo.
Com ele, tive incontáveis aventuras que ninguém na minha vida real conseguiria oferecer. E todas acabaram da mesma forma: um beijo de despedida e um súbito despertar.
Só conseguia me lembrar que ele era loiro e tinha olhos verdes como a floresta em um dia ensolarado. Mas não me lembrava como essas características se encaixavam em seu rosto.
Às vezes ia dormir esperando por ele, e ele não vinha. Às vezes tinha insônia e por isso não conseguia vê-lo. E mesmo que se passassem dias, ou até meses sem vê-lo, quando ele voltava, eu o reconhecia e ele me levava para uma nova aventura.
Acho que a melhor parte dos sonhos é que lá podemos fazer o que quisermos sem nos preocupar com consequências. Posso nadar livremente no mar sem medo de ser pega por tubarões, posso fazer carinho em animais selvagens sem ter medo de ser atacada, posso falar com alguém sobre coisas que sempre quis dizer, mas nunca tive coragem. E depois de tudo isso consigo acordar com um sentimento de leveza e tranquilidade, mesmo que muitas vezes esqueça mais da metade do que se passou durante as horas em que estive dormindo.
Mas essa noite, algo diferente aconteceu. Assim que me deitei na cama e fechei os olhos, senti a presença dele novamente. Mas ao invés de me levar para uma aventura, ele apenas ficou parado em frente a mim, me olhando nos olhos. Senti um arrepio percorrer a minha espinha e uma sensação de desconforto tomou conta de mim.
— Quem é você? — perguntei a ele, tentando desesperadamente lembrar de seu rosto.
— Você não se lembra de mim? — Ele perguntou com uma voz calma e suave.
Balancei a cabeça em negação. — Eu nunca consigo me lembrar de como você é quando acordo.
Ele deu um pequeno sorriso e se aproximou, tocando suavemente meu rosto com as mãos.
— Não se preocupe, isso não é importante. O que importa é que você sabe quem sou enquanto está aqui, comigo.
Eu me senti estranhamente confortada por suas palavras. Mas eu queria mais. Queria poder encontrá-lo quando acordasse, abraçá-lo de verdade e tê-lo ao meu lado.
— Por favor, me diga como posso encontrá-lo. Estou cansada de esquecer quem você é!
Ele sorriu e encostou a testa na minha, — Você vai me encontrar. Eu prometo.
Ele se afastou um pouco e me beijou suavemente na testa antes de desaparecer diante dos meus olhos. Mais uma vez.
Ao acordar, aquele vazio imenso tomou conta de mim mais uma vez. Ele se foi novamente e tão rápido quanto esse sonho, foi a velocidade em que esqueci seu rosto.
Me levantei, pronta para enfrentar mais um dia correndo da universidade, até o estágio e depois o trabalho.
Como sempre, enfrentei um dia estressante e cansativo, mas sabia que no fim, quando estivesse formada e bem empregada, esse esforço seria recompensado.
Estava voltando para casa quando ouvi meu nome ser chamado, mas preferi ignorar. Era noite, e não era seguro para uma moça voltar para casa sozinha. Mas era o que eu precisava fazer naquele momento.
Meu nome foi chamado novamente, dessa vez acompanhado de um toque suave em meu ombro, que me fez estremecer.
— Me deixa em paz, por favor! — implorei já cansada. Depois daquele dia eu não tinha condição de aguentar um estranho me perturbando.
— Mas prometi que você me encontraria, esqueceu?
Foi quando reconheci a voz do rapaz em meus sonhos. Ou talvez fosse minha mente jogando comigo.
Ele me soltou, e eu me virei para vê-lo.
Lá estavam seus olhos de esmeralda. Seu cabelo loiro era radiante e brilhante, com um tom suave e agradável aos olhos, perceptível até estando debaixo somente da luz da lua. Seu sorriso era como uma luz radiante em uma noite escura.
Foi como se minhas memórias dos sonhos retornassem, e eu pudesse ver aquele homem em cada uma de minhas aventuras. Ele não era fruto de minha imaginação. Era real e estava ali na minha frente.
Mas ele era estranhamente familiar. E não era pelos sonhos. Eu o conhecia.
Disse seu nome em um sussurro, e ele confirmou minhas suspeitas.
— Já faz muito tempo — disse ele — Mas quando comecei a sonhar com você, percebi que precisava te achar. Te reconheci quando vi uma velha foto da escola.
Ele me mostrou a foto de uma foto em seu celular, então me lembrei. Realmente. Aquilo já fazia muitos anos.
— Eu não tinha mais essa foto. Não sou de ficar guardando lembranças — afirmei.
— Agora não precisa mais dela — respondeu ele com um sorriso, — Não éramos muito próximos naquela época, mas podemos ser agora. O que acha?
Ele me olhou com expectativa. Esperei muito por isso, então a resposta não podia ser diferente:
— Eu adoraria.
Ao vê-lo finalmente em sua forma física, eu soube que ele era mais do que um sonho. Ele era uma parte de mim que eu havia esquecido. E com um sorriso no rosto, eu estendi minha mão para ele, pronta para embarcar em uma nova aventura, dessa vez na vida real.
Comentários
Postar um comentário